Nos últimos anos tem sido um discurso comum afirmar que existe um volume de capitais de risco enorme disponíveis no Brasil mas faltam bons tomadores. Ao conversar com investidores, sejam eles grandes fundos internacionais, sejam fundos brasileiros de menor porte, o que se ouve é que eles, por natureza, focam em empresas médias com bom potencial de crescimento, são bombardeados com pilhas de business plans mas os negócios que lhes são apresentados não são bons.
Ora, a economia brasileira é enorme e, apesar de todas as vicissitudes, nunca deixaram de surgir novas e prósperas empresas. Então como é possivel que não existam bons negócios para os fundos de investimento?
Existem. É que a história não é tão simples assim. Vamos deixar de lado o trivial, aquilo que todo mundo já sabe: muitas empresas não estão organizadas o suficiente para a entrada de um fundo; há problemas com ativos e negócios da empresa misturados com ativos e negócios da familia; podem existir problemas fiscais; podem existir atividades informais; e por ai vai
Mas o que realmente atrapalha a aproximação de fundos e empresas não são as questões mencionadas acima. A meu ver há três outros empecilhos que impedem que a maior parte dos negócios aconteça.
O primeiro empecilho diz respeito ao próprio mercado. O objetivo de um fundo de investimento é ganhar dinheiro com a valorização da empresa. A empresa só valoriza se as curvas de crescimento e lucratividade após a entrada do fundo forem substancialmente maiores e mais acentuadas do que antes. Ou seja, não basta continuar crescendo como vinha, é preciso crescer mais rápido. Se isso não acontecer, o empreendimento não gera valor suficiente para remunerar o novo acionista e ele passará a ser apenas uma pedra enorme no sapato do fundador. Crescer muito rapidamente assusta. Os riscos se multiplicam. Os altos e baixos da economia brasileira atrapalham. A burocracia atrapalha. A gestão se torna mais complexa. Os gestores provavelmente foram trocados com a entrada do fundo, saindo membros da familia e assumindo profissionais de mercado. Portanto, as regras e as convivências internas ainda estão se reacomodando. Tudo isso assusta bastante o empresário de médio porte negociando com um fundo
O segundo empecilho é o conjunto de regras de governança que o fundo impõe. Empresas familiares poucas vezes dependem de estruturas abrangentes de planejamento, tomadas de decisão e controle. Ao contrário, a flexibilidade e capacidade de reação rápida são elementos importantes na sua solidez empresarial. Um fundo sempre irá exigir um conjunto de controles muito maior (não apenas financeiros como também contábeis e operacionais), relatórios mensais, resultados trimestrais, indicadores de performance detalhados e compartilhamento de todo tipo de informação relevante nas reuniões do conselho. Ao mesmo tempo, o empresário é solicitado a fazer sua empresa crescer cada vez mais rápido e com parte de sua equipe renovada. Empresários que venderam parte de sua empresa para fundos se queixam de que eles passaram a viver para o sócio e não tem mais a empresa na mão, tendo dificuldades para cumprir as metas com que se comprometeram. Ouvir este tipo de relato de pares estimula muitos empresários a desistir de uma possivel negociação com fundos.
O terceiro problema não diz respeito à entrada do fundo e sim à sua saída. Em mercados maduros, a saida tradicional de um fundo que investe em empresas de médio porte é a bolsa de valores. A abertura de capital não apenas dá liquidez para as ações do fundo como também para as ações da familia fundadora. No Brasil esse mecanismo não funciona. Por mais que se fale de bolsa de valores, não há mais do que 600 empresas de capital aberto no país e apenas em condições muito particulares é possivel que uma empresa de médio porte consiga abrir seu capital. Então a saída habitual dos fundos que operam no Brasil é vender sua participação para outro fundo. O resumo da ópera é que o empresário fundador passa a ter de conviver por muitos anos com sócios financeiros que se sucedem e que quase sempre impedem formalmente que ele venda sua parte majoritária no negócio sem o consentimento do fundo. Ou seja, o que era para ser uma solução se torna um problema. Por isso que muitos empresários hoje preferem vender a totalidade do seu negócio (ou o controle, com cláusula de venda do remanescente das ações após determinado período de tempo contanto que certos níveis de resultado sejam atingidos) do que assumir um sócio minoritário e continuar mandando na empresa apenas de forma aparente
Tudo somado, não é que negócios bons não existam…. é que muitos empresários bons se desinteressam em ter fundos investidores como sócios à vista dos 3 fatores descritos. Preferem continuar com seu crescimento orgânico, financiado apenas com a geração de caixa ou alguma linha de crédito privilegiado do BNDES, dentro da zona de conforto e sem maiores pressões de sócios investidores.
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