Muito se tem falado sobre a evolução da renda média da família brasileira. Mas como o Brasil é um país de poucos dados estatísticos, e os que existem nem sempre são confiáveis, a gente acaba se fiando mais na opinião dos especialistas do que propriamente em números.
A Associação Brasileira das Empresas de Pesquisa (ABEP) publica um estudo anual sobre a renda média da família brasileira por classe social. Embora os critérios para enquadramento das famílias nas várias faixas de renda sejam ajustados periodicamente (o que afeta a continuidade da série) pode-se dizer que os dados da ABEP oferecem uma visão consistente do que de fato está acontecendo no nosso mercado de consumo.
A distribuição da população por faixa de renda, relativa aos últimos 5 últimos anos (2006 a 2011), está apresentada abaixo
A tabela mostra claramente um extraordinário encolhimento da classe D, que se reduziu em mais de 30% em 5 anos. E o virtual desaparecimento da classe E (o que, evidentemente, conduzirá a uma nova revisão dos critérios da ABEP já que uma classe de renda tecnicamente não pode desaparecer)
Outro aspecto que chama a atenção é o encolhimento (em termos porcentuais) das classes A e B. Já a classe C que representava 33,7% da população brasileira em 2006 (um terço do país, em números redondos) e passou a representar 49,4% (metade do país) cinco anos depois (na soma dos dois segmentos). Cinco anos é um prazo extremamente curto para mudanças tão profundas na distribuição de renda do país e explica porque os negócios voltados para a classe C explodiram nos últimos anos
A próxima tabela mostra a renda média mensal das famílias por classe social (em R$ correntes, não ajustados para eliminar os efeitos da inflação)
Grosso modo, este quadro mostra uma evolução da renda em cerda de 30% para todas as faixas. A classe E,com 54,1% de crescimento da renda, poderia ser o destaque do quadro. Mas como ela representa apenas 0,8% da população, acaba sendo irrelevante. É importante notar que a classe C, que cresceu 50% nominalmente e teve sua renda expandida em 30%, aliada à demanda reprimida, amplo desejo de consumo e acesso farto à crédito, explica o agigantamento do comércio orientado à classe média baixa, bem como a preocupação da indústria em entender o pensamento e o comportamento deste consumidor
Em um post anterior deste blog eu mostrei tabelas do IBGE que comprovam o envelhecimento da população. As projeções oficiais do órgão mostram que, em poucos anos, teremos uma distribuição etária em formato de barril, com muita gente de meia idade e menos jovens no país
Tudo somado o que temos é uma enorme classe média baixa, com renda nominal ascendente e famílias com número cada vez menor de filhos