Sintese da entrevista que Joe Coughlin, diretor do MIT Age Lab, deu ao jornal USA Today. Em seu livro The Longevity Economy, ele descreve como as empresas podem se preparar para atender a um enorme mercado: o do mundo envelhecido.
Por que tantas empresas estão despreparadas para um mundo que envelhece rapidamente?
As empresas acham que entendem o mercado da terceira idade mas essa “compreensão” é incompleta. A narrativa prevalecente enxerga a “velhice” como uma pessoa cansada, de pouca capacidade produtiva. Prevalece a ideia de que os mais velhos são meros consumidores, nunca produtores.
Assim, as empresas fabricam produtos projetados para cidadãos passivos. Enquanto isso, os idosos querem cada vez mais continuar como participantes ativos da vida social, produtiva e consumidora. Essa vontade, combinada com a riqueza e o tamanho da crescente população idosa, tem poder de transformar setores inteiros da economia à medida em que as empresas vão descobrindo como atender aos desejos dos adultos mais velhos de participar, criar, construir e influenciar o mundo ao seu redor.
Você afirma que não tem lógica a visão atual de que ocorre uma mudança repentina na vida da pessoa quando ela entra na terceira idade. Por quê?
Considere uma faixa etária qualquer e generaliza para todos os indivíduos dessa desta faixa um punhado de atributos específicos. Seria um exercício ridículo. E, no entanto, fazemos exatamente isso com a terceira idade. O universo de “adultos mais velhos” inclui pessoas de todas as etnias, religiões, sexualidades, saúde, orientações políticas, etc.
Mesmo convivendo diariamente com pessoas mais velhas que são como nós, a maioria das pessoas continua estereotipando os mais velhos. “Ser velho” não é um atributo que defina alguém.
O que poderá mudar essa visão estereotipada da velhice?
A atual geração de adultos mais velhos está começando a exigir um novo significado para esta fase da vida, que se prolonga cada vez mais. É impossível predizer o que os adultos de meia idade atuais acharão significativo quando chegarem na terceira idade, daqui a algumas décadas.
Provavelmente será uma variedade tão grande de coisas que não será possível fazer uma descrição simples. O que certamente teremos será uma quantidade e variedade cada vez maior de produtos e serviços projetados especificamente para a cada vez mais expressiva terceira idade.
Como você enxerga os americanos (ricos e instruídos) colhendo os ganhos de longevidade?
Nos EUA, ao contrário do resto do mundo, tem havido uma reversão na tendência de se aumentar continuamente a expectativa de vida. A taxa de mortalidade aumentou entre pessoas economicamente desfavorecidas com níveis de educação relativamente baixos. Adultos desses grupos sociais tendem a olhar com pouca esperança para o futuro. Há muitos casos das assim chamadas “mortes de desespero”, resultado de suicídio, álcool e drogas.
Mas qual é a fonte do desespero? Dependendo de quem você pergunta, varia desde razões econômicas até o colapso das instituições sociais ou danos irreversíveis ao meio ambiente. Eu adicionaria outro item à lista: muitas pessoas na meia idade acham que seu futuro não será feliz ou confortável. Então, respondendo a sua pergunta, nosso desafio será garantir que o novo leque de oportunidades na terceira idade seja equitativa para pessoas em todos os níveis de renda, educação e raça.
Quem serão os agentes da mudança no mundo de pessoas cada vez mais velhas? As mulheres?
As mulheres provavelmente serão as líderes na identificação de novos desejos e necessidades no grupo social de mais idade. E é possível que também venham delas as respostas às demandas de novos produtos. Não só as mulheres normalmente vivem mais do que os homens, mas são mais propensas a tomarem as decisões sobre o consumo da casa. As mulheres já tomam ou influenciam diretamente as decisões de compra nas principais categorias de consumo hoje.
Além disso, elas são mais cuidadoras do que os homens. Pesquisas do MIT AgeLab sugerem que as mulheres entram na velhice com uma percepção mais clara e detalhada do que vem pela frente. O fato de terem sido sempre a principal compradora e cuidadora da família lhes dá uma vantagem única em compreender quais produtos, serviços e experiências são melhores para atender as exigências da velhice.
Infelizmente, as mulheres mais velhas são quase sempre ignoradas pelas comunidades de investimento e tecnologia. O resultado é que são pequenas as possibilidades delas se tornarem empreendedoras e criarem os serviços e produtos de interesse da sua faixa etária que elas tão bem são capazes de identificar.
A noção de que os homens jovens são a cara da inovação prejudica empreendedores e empreendedoras mais velhos. Quando os jovens tentam inovar para o mercado senior, eles se focam em poucas e óbvias coisas: lembretes para tomar remédio, detectores de queda, sistemas de apoio à emergências.
São tecnologias uteis e nobres mas evidenciam que os jovens estão presos à ideia superada de que os idosos são apenas um problema médico. Na realidade, os adultos mais velhos geram um espectro de demandas que os empreendedores jovens não são capazes de compreender. Mas as mulheres mais velhas, são. O capital de risco inteligente apostará nelas.
Qual o legado dos Baby Boomers?
Os Baby Boomers (nascidos entre 1946 e 1964, portanto pessoas com mais de 54 anos) são a geração mais barulhenta da história. Atualmente, uma pessoa faz 65 anos a cada sete ou oito segundos. Eles vivem desde que nasceram em um mercado que atende a todas as suas necessidades e caprichos e não esperam que isso mude.
Isso significa uma enorme demanda potencial por produtos que os encante por algumas décadas a frente, e não apenas por uns poucos anos. O novo gap geracional será de expectativas: espera-se não apenas viver mais, mas para viver melhor.
Este elevado nível de expectativa, combinado com o poder político e econômico dos Boomers, vem mudando a visão prevalecente da vida na terceira idade. Talvez os Boomers estejam lançando as bases de um mundo sem idade, onde a velhice seja um estágio em que a regra não seja se retirar, mas se engajar.
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