ESG é o tema deste ano. Todo mundo só fala disso. Todas as consultorias desenvolveram abordagens orientadas para ESG. Nos eventos, congressos, seminários, webinars, palestras e encontros, só se fala em ESG. Marqueteiros, publicitários, diretores de fábrica, investidores, gestores de RH, jornalistas, head hunters, formadores de opinião, youtubers …. ESG está em todo lugar. Quando não se fala de política, fala-se de ESG.

O discurso corporativo vai na mesma toada. Nenhuma empresa quer ficar para trás. Todas procuram ser responsáveis e responsivas às demandas da sociedade, bem como dos investidores e dos reguladores. E já há muitas leis e regulamentos sendo propostos, todos endereçando algum aspecto do ESG

Então, já que todos concordam que ESG é necessário e que traz muitos benefícios, implantar princípios ESG é um movimento fácil e indolor, certo?

Infelizmente, é só entrar no coração das empresas para se constatar que a história é bem outra. A quantidade de dificuldades associadas às mudanças que precisam ser superadas é tão grande que muitas empresas estão simplesmente perdidas

Vamos ver alguns das questões que estão tirando o sono dos CEO´s

Mudança Cultural

Meio ambiente é um problema da fábrica e do pessoal de pesquisa e desenvolvimento; governança é problema do conselho; social é problema do RH. É assim que esses temas vêm sendo tratados há anos. Ocorre que ESG não é só a aglutinação de iniciativas nas quais as empresas já estão engajadas há bastante tempo. ESG são princípios de boa gestão, embasados em uma profunda mudança cultural das pessoas, que conduz a uma profunda mudança na cultura corporativa. E mudança corporativa, como se sabe, é algo muito difícil de ser iniciado e gerenciado. Convencer a todos de que os princípios ESG não são um modismo qualquer e também não são uma mera satisfação da empresa ao mercado é essencial. Somente quando todo o corpo profissional tiver assimilado esses princípios e colocados em prática em sua própria vida é que poderemos dizer que a empresa efetivamente incorporou os princípios ESG em sua gestão

Multiplicidade de Vetores de Mudanças

Até recentemente, batia-se na tecla da empresa incutir o espírito empreendedor em seus funcionários. Depois evoluiu-se para incorporar cultura inovadora. É preciso também implantar uma cultura de aceitação da diversidade. Temos de lançar um novo olhar para o meio ambiente. E temos de ser mais transparentes, éticos e socialmente responsivos. Tudo isso sem esquecer que é fundamental preservar a orientação para o mercado, agora entendendo que o mercado é composto por centenas de sub-grupos de consumidores, muitos com interesses e visões de vida opostos entre si. Espera-se que tudo isso faça parte da nova cultura corporativa.

Abordagem bottom-up

Recentemente fomos chamados por uma grande corporação para ajuda-los a resolver um problema difícil: a empresa deflagrou diversos projetos para redução de emissão de gases estufa e para isso contratou uma consultoria especializada. Está também revisando todo o seu modelo de governança, utilizando os serviços de outra consultoria especializada. E, por fim, contratou uma consultoria de diversidade e inclusão para desenhar um programa dessa natureza. O problema é que os projetos estão sendo desenvolvidos com metodologias diferentes, propondo objetivos até mesmo conflitantes entre si, gerando mais uma enorme quantidade de KPIs a serem atendidos e, em sua maioria, KPIs não conectados a nenhuma estratégia e sem possibilidade de serem integrados no modelo de gestão. Os gestores estão investindo um tempo enorme no desenvolvimento desses projetos e a alta gestão agora se vê frente a um ambiente bastante caótico. Todos aprendemos que não se deve iniciar projetos operacionais sem estar atrelados a objetivos, estratégias e políticas claras. Mas é precisamente isso que a grande maioria das empresas tem feito no ESG, muito particularmente no social

ESG como ordem da matriz

Situação típica de multinacional. A matriz determina que todas as unidades do mundo devam ter um comitê para lidar com gordofobia, por exemplo. E todas as unidades criam o tal comitê, independentemente da sua real necessidade ou prioridade. Um nosso cliente tem mais de 10 comitês de diversidade implantados. Um dos comitês visa integrar asiáticos porque, no país de origem da empresa, asiáticos sofrem de grande preconceito. Não é a realidade brasileira, mas o comitê existe. Obviamente, os resultados são pobres e conflitantes. As corporações multinacionais devem compreender que processos de transformação cultural precisam respeitar a cultura e condições locais. Por mais que os modelos de gestão precisem ser padronizados, bem como regras de governança e estratégias globais, não dá para impor regras culturais uniformes a todas as operações no mundo. Isso vai contra o bom senso e também contra os próprios princípios ESG

Inclusão ou Assimilação?

A empresa decide diversificar seu quadro profissional e contrata uma série de pessoas que não fazem parte do perfil típico de colaboradores contratados até então. O que manda a técnica vigente de gestão de recursos humanos? Assimilar os novos contratados, educando-os na cultura corporativa e tornando-os similares aos funcionários atuais, facilitando a integração. O que diz o ESG? Queremos o pensamento e a visão diferentes que estas pessoas possuem. É preciso inclui-los mas não assimilá-los. As pessoas que chegam querem mudar a empresa. Mas a empresa, durante décadas, mudou as pessoas para vesti-las com a roupa da sua cultura corporativa. O choque é inevitável. Há relatos de empresas com turnover acima de 50% dos novos contratados “diversos” com apenas 3 meses de casa

Esses são alguns exemplos de dificuldades de implantação de princípios ESG. Ainda não há maneira melhor de se começar a mudar uma empresa do que definir uma abordagem top-down e começar por uma profunda mudança cultural dos lideres, e daí descendo para a base. Leva tempo, não é isento de conflitos, mas é a maneira pragmática e eficaz de se implantar ESG

Fabio Nogueira é economista pela FEA-USP, com MBA pela Hult Institute, Boston / EUA. É Vice-Presidente da ADVB – Associação dos Dirigentes de Vendas e Marketing do Brasil, fundador do Observatório da Longevidade, Sócio-Diretor da Prosperidade Consultoria e diretor do Instituto Brasileiro de Líderes

A Prosperidade Consultoria é uma empresa fundada em 1994. Com amplo histórico de projetos em estratégia corporativa, internacionalização de negócios, modernização gerencial e processos de transformação empresarial, a Prosperidade vem se consolidando como consultoria de excelência em temáticas emergentes, dentre as quais ESG e inovação