Quarenta anos atrás o país enfrentava a mega-crise da dívida que transformou os anos 80 na famosa década perdida. O desemprego era maciço em todos os níveis. As empresas podiam garimpar talentos a seu bel prazer, pagando salários baixos que eram imediatamente corroídos pela alta inflação. Os dois grandes problemas de qualquer empresa, na época, eram arrumar clientes e administrar o custo inflacionário. Qualificar mão de obra era um problema secundário e só a indústria dava alguma atenção ao tema.

CaixaNos últimos anos, com a economia em pleno emprego, salários em alta e falta de bons profissionais, voltou-se a falar muito em educação e qualidade de mão de obra, quase sempre como uma responsabilidade do governo.

Não há dúvida que compete ao governo prover ensino básico de bom nivel, coisa que não temos e que compromete a formação profissional, que se estrutura sobre o aprendizado elementar. Mas há um outro lado da questão. O varejo não é valorizado na sociedade brasileira como deveria ser. O empresário varejista ainda é visto como o mercador, o sujeito de baixo nível de escolaridade cuja maior virtude é o convencimento, a capacidade de negociação. Essa visão permeia todo o negócio varejista. A posição de vendedor (ou caixa, ou atendente) é a opção profissional de quem não tem opção. O sujeito pouco letrado, que deixou a escola elementar, que não tem condições de frequentar um curso técnico, vai ser vendedor.

mal atendidoAqui reside um problema extremamente sério: é justamente essa pessoa, que não tem boa formação, que deixa o emprego por qualquer oferta minimamente melhor, que tem baixa capacidade de absorção de informação e conhecimento, com pouca instrução formal, que lida diretamente com o seu cliente. É nesta pessoa que o empresário procura incutir responsabilidade, postura, percepção e capacidade de entendimento do comportamento do consumidor. E essa pessoa que recebe salário de menos de R$ 1.000 (de acordo com os acordos sindicais vigentes em São Paulo) e uma comissão que, supostamente, lhe traz todas as virtudes necessárias para cumprir metas de vendas. É esta pessoa que não tem perspectiva de carreira dentro do varejo e que sonha em “sair de vendas para fazer alguma coisa melhor”

O varejo é tão importante para uma sociedade moderna quanto qualquer outra atividade. Não faz sentido o empresário industrial ser chamado de capitão da indústria, ou simplesmente Industrial, e o empresário varejista ser chamado de comerciante. Não faz sentido empregar mão de obra barata, de alta rotatividade, formação educacional pobre, com treinamento instrumental elementar e imaginar que seu cliente será bem atendido. Não é a toa que os varejistas vivem às turras com a recorrente incapacidade de se criar a famosa “inteligência sobre o cliente”, achando que um bom CRM vai lhe dar todas as informações necessárias ou contratando caríssimas pesquisas de comportamento e tendências.

franquia 6É hora do varejo entender que ele é importante e tem status. É tempo das pessoas entenderem que varejo é carreira e não uma função temporária para ir pagando as contas antes que algo melhor apareça. É hora de se pensar em empregar pessoas de melhor nível educacional para lidar com seu ativo mais importante – o cliente. É hora do governo entender que dar uma escola melhor é mais do que só ensinar português e matemática. É criar condições para que todo o mercado de trabalho se aperfeiçoe, gerando cidadãos, funcionários e consumidores que se vejam, sejam e se tratem como iguais.

 

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