Este artigo foi publicado originalmente no caderno de negócios do jornal O Estado de São Paulo, em agosto de 1990. A história é verídica e as conclusões ainda válidas, mesmo tendo-se passado quase um quarto de século. Algumas modificações menores no texto foram feitas para ajustá-lo ao formato do blog
Viajando a negócios pelo interior de São Paulo, um grupo de consultores deteve-se para um rápido almoço. A cidade escolhida ficava exatamente na metade do percurso que precisava ser coberto naquele dia. Atendendo a indicações dos habitantes locais, os quatro consultores dirigiram-se a um restaurante situado nas proximidades da praça principal.
À sua entrada, um luminoso anunciava as especialidades da casa: churrasco, frango grelhado e bacalhau. O bacalhau despertou imediatamente o interesse do mais novo do grupo, jovem engenheiro recém-chegado dos EUA. Informou o maitre que o bacalhau estava ótimo, fresquinho e, fantástica coincidência, era o prato que mais rapidamente poderia ser servido. Sendo pré-cozido, em 15 minutos ele já estaria pronto para vir à mesa.
O segundo consultor, preocupado com o eventual desperdício de comida que poderia ocorrer se cada um pedisse um prato diferente, perguntou se a porção de bacalhau dava para dois. Ótimo, ela dava. O terceiro consultor, chefe do grupo, preocupado em reduzir o custo financeiro do almoço (claro), quis saber se a porção poderia satisfazer a três pessoas. O maitre olhou cuidadosamente para os seus mais de 90 quilos e negou categoricamente a possibilidade.
O quarto consultor queria frango grelhado. Tudo bem informou o maitre, levemente impaciente, só que demoraria cerca de meia hora para ser preparado. Criou-se o impasse. Três pessoas optavam pelo bacalhau. A última pensava no frango. Se pedissem duas porções de bacalhau e uma de frango a conta ficaria salgada e haveria desperdício de comida. Forçar o chefe a mudar seu pedido nunca foi boa política. Pedir os dois pratos também retardaria o almoço em pelo menos quinze minutos.
Condescendente, o quarto consultor anuiu em comer bacalhau também e duas porções foram pedidas. Quarenta e cinco minutos depois foi servido um escuro, mal-cheiroso e engordurado bacalhau, certamente o pior de todos os que aquelas pessoas já tiveram a oportunidade de experimentar.
Lições da história:
- As aparências enganam
- Tomar decisões estratégicas (e escolher o alimento é sempre uma decisão de natureza estratégica) baseado em aparências ou informações superficiais é totalmente desaconselhável. O risco de estar-se fazendo a opção errada é enorme
- Um conjunto de decisões corretas e racionais tomadas a partir de uma primeira, errada, dificilmente conduzirá a resultados finais positivos. O efeito mais provável não é a correção do erro mas sim sua ampliação, que poderá até redundar em catástrofes (uma disenteria, por exemplo)
- Mesmo que você não tenha forma de obter informações que lhe permita escolher acertadamente, procure evidências que o auxiliem na tomada de decisões. Se os consultores estivessem alertas teriam percebido que eram os únicos clientes do local, que as garrafas de vinho nas prateleiras estavam cobertas de pó e que a funerária da cidade ocupava a casa em frente ao restaurante
- Por fim, desconfie de quem se diz especialista em tudo. Um mestre churrasqueiro certamente terá dificuldades em preparar um bom bacalhau ao forno.
Em tempo: o título deste artigo é uma homenagem ao principal protagonista da história, jovem de promissora carreira em consultoria mas a quem não se deve pedir conselhos na hora de escolher pratos em restaurantes desconhecidos.
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