Semanas atrás, a D.D Consultoria fui procurada por uma grande e tradicional empresa brasileira para tentar auxiliá-la na resolução de um problema que vem afetando toda a indústria. Em 2010 essa empresa decidiu adquirir novos equipamentos para suas bases industriais na presunção de que o mercado continuaria crescendo a taxas razoáveis. Naquele ano, como se lembra, o Brasil cresceu 7,5%. Ninguém apostava que essa taxa fosse se manter mas havia um certo consenso de que o governo conseguiria garantir algo como 4 a 5% ao ano ao longo desta década. E foi com base nesse pressuposto que a empresa decidiu por ampliar sua capacidade produtiva.
Foi um tiro no pé. Investimentos industriais levam tempo para maturar. A empresa encomendou seus novos equipamentos no exterior e contratou o projeto de uma nova fábrica. Ambos levaram 3 anos para serem concluídos. Os equipamentos chegaram no início deste ano e foram instalados. Agora a empresa tem uma fábrica nova, que irá se juntar às outras duas já operando, e que agrega 50% a mais de capacidade produtiva. Seus concorrentes fizeram o mesmo, embasados no mesmo pressuposto. E o que aconteceu com a economia do país? Cresceu apenas 2,7% em 2011, estagnou ano passado e não mostra sinais de recuperação este ano. A empresa está desesperada porque não tem o que fazer com seu parque instalado, em que pese o financiamento a juros baixos obtido junto ao nosso banco de desenvolvimento.
Toda decisão de investimento embute risco. Porém ninguém irá investir na manufatura se não existir um mínimo de estabilidade e previsibilidade no futuro do mercado e da economia. O governo brasileiro gastou os últimos 10 anos incentivando o consumo e dando atenção zero para investimento em infra-estrutura, educação e tecnologia, que constituem os pilares do progresso econômico. Agora a bonança das commodities acabou e nossa economia dependente da dinâmica do Extremo Oriente se vê paralisada e sem horizontes.
O que fazer para ajudar essa empresa? Vamos criar novos produtos derivados dos atuais, achar nichos de mercado, desenvolver novas aplicações, exportar alguma coisa para a América Latina, renegociar o contrato de financiamento, paralisar a planta mais antiga e menos eficiente, espremer o overhead e coisas assim. São ações de defesa e sobrevivência que permitirão à empresa esperar pela única solução para quem investiu acreditando no país: ter mais mercado. Enquanto isso, o país vai perdendo tempo, como tantas vezes já o fez.