Eu trabalho com consultoria em gestão há 32 anos, desde o início da grande crise brasileira de 1981. Ao longo desse tempo muita coisa mudou no mercado e talvez uma das mudanças mais significativas tenha sido o crescimento e a consolidação das redes de porte médio.  É impressionante a quantidade de redes varejistas operando entre 40 e 200 lojas que existem por este país afora. Curiosamente, apenas as poucas redes de maior porte aparecem na mídia, são consultadas nas pesquisas de tendências ou agraciadas com prêmios.

Redes de médio porte tem características específicas, a meu ver. De um lado, elas enfrentam desafios semelhantes aos das grandes redes. Desenham novos processos operacionais, implantam um bom sistema de gestão, automatizam o CD, estruturam o relacionamento com os clientes. De outro, ainda são empresas familiares, com tomada de decisão centralizada e baseada na experiência dos donos, e com grande distância entre a diretoria e os níveis operacionais.No meio disso tudo vem o crescimento acelerado, com consequente comprometimento de caixa e aumento da percepção de falta de controle sobre o negócio.

No mundo todo, o varejo de porte médio é o carregador de piano do setor e tem grande representatividade nas entidades de classe, além de ser foco das empresas de consultoria. Não vejo isso acontecer no Brasil. Há sempre as velhas desculpas. Duas são clássicas:” o empresário varejista é desconfiado”; e a exuberante “varejista tem escorpião no bolso”. Como se industriais e prestadores de serviços não fossem desconfiados e adorassem torrar dinheiro.

Na minha visão, o varejo de médio porte está simplesmente abandonado, o que é uma pena porque ele tem muito a dizer. Primeiro, este varejo está espalhado pelo país e tem uma visão abrangente sobre o comportamento do consumidor que não mora no sempre pesquisado eixo São Paulo – Rio – BH – Porto Alegre – Brasília. Segundo, porque há desníveis acentuados na qualificação da mão de obra ao longo do país. Boa mão de obra é fator crítico de sucesso hoje em dia. Redes localizadas fora dos grandes centros estão partindo para implantação de seus próprios centros de formação, que não é uma função do varejo e onera a empresa, além de se correr o risco de formar gente para o mercado. Um terceiro ponto relevante é que inovação não é privilégio de paulistas e cariocas. Muitas boas ideias, incluindo novos formatos de loja, surgem o tempo todo mas que não ganham visibilidade. Por fim, o varejo regionalizado é fundamental para reduzir a dependência da indústria em relação às grandes redes. Em setores muito concentrados, como o eletro-eletrônico, as redes de porte médio ajudam a equilibrar as forças dentro da cadeia de suprimentos. Porém, com baixo nível de organização, intercâmbio de informações e representatividade, o varejo de médio porte tira pouco proveito disso.

Está faltando uma entidade ou instituto que congregue as empresas varejistas de médio porte, discuta seus problemas, identifique interesses comuns, construa soluções específicas e as ajude a se profissionalizar e evoluir até se tornarem grandes e, quem sabe, internacionais.