Por Fabio Nogueira

A teoria econômica nos ensina que o crescimento econômico depende de concentração de capital. Essa concentração pode ocorrer por 3 mecanismos diferentes:

robberbarons1(1) Pela ação do próprio empresariado, como aconteceu nos Estados Unidos na segunda metade do século 19. Os “robber baron” ficaram conhecidos por dominar seus segmentos de mercado às custas de práticas bastante controversas. Embora hoje em dia isso seja raro, em setores embrionários esse fenômeno ainda é visível. Basta lembrar o que ocorreu com a indústria de sistemas operacionais e aplicativos para desktop nos anos 80, que se concentrou praticamente todo na Microsoft apesar das várias ações anti-monopólio movidas contra a empresa.

(2) No capitakorean-companieslismo dirigido, onde o governo utiliza uma combinação de ferramentas tributárias, financeiras, legais, regulatórias e alfandegárias para estimular o surgimento e consolidação de grandes conglomerados industriais, capazes de investir fortemente em tecnologia e produzirem a baixo custo em função da larga escala. A Coréia do Sul utilizou esse método com muito sucesso a partir dos anos 60, com seus Chaebols. O mesmo método foi utilizado nos governos Lula, com seu projeto de campeãs nacionais.

 

(3) Com a criação de grestataisandes empresas estatais, não raro monopolistas. Foi o modelo aplicado pelo regime militar. O prof. Delfim Netto, artífice desse modelo na época, repetia sempre que era preciso primeiro fazer o bolo crescer e depois dividi-lo, justificando a falta de políticas de distribuição de renda e promoção da igualdade social. O regime militar, a bem da verdade, também estimulou o surgimento de grandes conglomerados nacionais mas poucos deles sobreviveram ao teste do tempo

A partir de 2016 o Brasil começou uma guinada rumo ao conservadorismo político, o que geralmente conduz ao fortalecimento do livre mercado. Houve relativamente pouco progresso nesses 6 anos. As reformas foram tímidas, a privatização também, o PIB praticamente não cresceu. Teremos eleições federais em outubro. A maioria dos analistas concorda que nenhum dos candidatos mais bem posicionados nas pesquisas deixará de avançar por uma agenda que estimule a atividade econômica. Considerando o histórico dos últimos 20 anos, é licito perguntar: qual capitalismo é viável e/ou necessário para o país retomar sua rota de crescimento?

  • o capitalismo selvagem do velho oeste americano é impensável.
  • a economia dirigida encontra-se desacreditada em função dos escândalos de corrupção, enriquecimento ilícito e esgotamento da capacidade de investimento do estado, embora tenha dado muito certo em todo o Oriente (sendo a China o exemplo mais recente)
  • o modelo de estatização da economia provou-se útil em um primeiro momento e um entrave à eficiência do país no momento seguinte. Estatais facilmente tornam-se cabides de emprego, frequentemente tomam decisões baseadas não em lógica econômica mas em interesses políticos, permitem o surgimento de um corporativismo excessivo por parte de seu corpo funcional, são pouco ágeis, não prestam contas a ninguém, não seguem diretrizes de prazo maior do que o mandato do governante de plantão, são ineficientes, geram pouco lucro, recolhem pouco imposto, prejudicam o cidadão e impedem a competição

Ao Brasil não basta escolher um modelo de crescimento econômico. É preciso também equacionar o problema da falta de investimentos e cultura de inovação, eliminar o excesso de burocracia, estimular vigorosamente a reindustrialização do país e combater a mentalidade vigente em parte da sociedade de que o empresário é um predador. Tudo isso deve ser debatido dentro de uma visão de longo prazo, 30 anos ou mais, prazo mínimo necessário para que um país de industrialização tardia como o nosso possa almejar ingressar no rol das nações econômica e socialmente desenvolvidas

As eleições de outubro colocarão frente a frente dois candidatos que são apresentados à nação como estando no extremo de polos ideológicos opostos. Na realidade, não importa quem ganhe, há muito pouco espaço de manobra e a receita para recuperar o país passa por vender algumas estatais (e há centenas delas, embora certamente um candidato mais à esquerda tenha dificuldades em vender as mais valiosas), estimular o investimento direto estrangeiro, manter a inflação sob controle (o que pressupõe um limite de gastos públicos, já que o endividamento federal continua muito alto), manter a agricultura exportando o máximo possível, restringir despesas com serviço da dívida, controlar as despesas com aposentadoria e incutir otimismo na sociedade.

A eleição será muito disputada, com metade do país confiando em um candidato e desconfiando fortemente de outro. Independente dos resultados da eleição, é quase impossível imaginar um governo de consenso, com toda a nação unificada em torno de um lider. O que é uma pena

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