Por Isabela Nassif

Tenho observado um movimento importante de profissionais, grupos e empresas na busca por abrir a discussão sobre as oportunidades de trabalho para pessoas acima dos 50 anos e também sobre a flexibilização de modelos de trabalho para famílias com filhos pequenos, com ofertas das mais diversas, partindo de empresas que querem oferecer ambientes e pacotes de “facilidade e conforto” que proporcionem para mães, pais, enfim, os mais diversos estilos de família a possibilidade de trabalharem e também de viverem a educação e usufruírem da convivência com seus filhos.

Estamos, como sociedade, envelhecendo. Independente do nome que se dê para o amadurecimento, é fato que a sociedade tem o grande desafio de olhar de frente para esta realidade e tudo que ela traz à tona em termos de trabalho, educação e cuidados com a população idosa, que em nosso país será, segundo as projeções da USP, a quinta maior do mundo.

Dentro deste cenário o núcleo familiar se modificou – temos agora outro desafio – cuidar de quem um dia cuidou – uma legião de filhos maduros, em plena atividade profissional, com pais, tios e algumas vezes amigos e até avós que em sua longevidade agora precisam de nossos cuidados não somente em termos de saúde, alimentação, mas principalmente de carinho, atenção e tempo.

Normalmente não nos programamos para cuidar de quem um dia cuidou de nós. Esta realidade surge e na grande maioria das vezes não nos vemos preparados em nosso dia a dia para absorver mais esta “atividade”. Como inserir em nossa rotina, já tão preenchida e no tempo, já tão escasso, alguns minutos para ouvir histórias, dar carinho, atenção, ter paciência com o caminhar mais lento e com a memória que muitas vezes já falha? O tempo, grande aliado se torna um vilão implacável, pois os minutos preciosos para nós, que nos possibilitam cumprirmos nossa vida diária são ainda mais preciosos para aqueles cuja caminhada já é mais longa que a nossa…

Nesta relação não entramos apenas como “credores”. Somos os maiores beneficiados pela troca que acontece se estamos genuinamente abertos a crescer e aprender muito com esta transformadora experiência.

Falo de beber na fonte da experiência de pessoas que atravessaram muitas décadas, vivenciaram transformações muito rápidas no modo de vida, cenários tão diferentes do que conhecemos hoje e trajetórias com tanto suor de trabalho. Viveram em uma sociedade que funcionava de forma muitas vezes tão diferente da que experimentamos hoje, realidade econômica e financeira de um mundo ainda não globalizado, desafios ainda mais fortes em termos de escassez de recursos, que dão bagagem farta para uma troca riquíssima e muito temos a aprender sobre força, resiliência, capacidade de adaptação, reinvenção, criatividade e relações humanas.

Como inserir a realidade do profissional que cuida de quem um dia cuidou no cenário das empresas, dando espaço para que exista um equilíbrio entre vida profissional e pessoal, também para que cuida não só dos seus descendentes, mas especialmente dos seus ascendentes?

É provável que exista espaço na sua empresa para participar da vida dos seus filhos, ir a reuniões escolares, levar ao pediatra, acompanhar no calendário de vacinas, parar um tempinho pra ver um desenho feito no papel ou no tablet, fazer uma reunião online de casa, tendo ao fundo o gargalhar de crianças ou chorinho de bebê. Já imaginou a realidade de quem precisa acompanhar o pai ou a mãe ao geriatra, de quem vive com um idoso em casa, acamado e precisa se ver envolto a rotina de um adulto que não possui mais toda a sua capacidade, autonomia e sua independência preservadas?

Já vi locais de trabalho com estrutura de creches, para que mães possam levar seus filhos para o mesmo local onde trabalham e ao final do dia retornarem juntos para a casa. E se fossem os pais?

Aqui você já deve estar refletindo, assim como fazíamos em um passado não tão distante, que este problema é familiar e não da empresa… Sim, de fato, não podemos trazer para responsabilidade da empresa o cuidado com os nossos ascendentes, nem com os descendentes, mas sim, precisamos, se queremos falar de pessoas, lançar um forte feixe de luz a realidade de profissionais que atuam no mercado e muitas vezes vivem esta realidade de cuidar de quem um dia cuidou.

E você, como enxerga este movimento? Faço meu convite para que venha trilhar comigo este caminho, que se inicia com o primeiro passo que é a contribuição de cada um de nós para esse diálogo tão importante para a sociedade.

Isabela Nassif é executiva, mentora e fundadora da Mentoria da Jornada de Vida MJV
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@mentoriamjv
(11) 99202-3135

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