por Fabio Nogueira | jan 17, 2012 | Blog
Muito se tem falado sobre a evolução da renda média da família brasileira. Mas como o Brasil é um país de poucos dados estatísticos, e os que existem nem sempre são confiáveis, a gente acaba se fiando mais na opinião dos especialistas do que propriamente em números.
A Associação Brasileira das Empresas de Pesquisa (ABEP) publica um estudo anual sobre a renda média da família brasileira por classe social. Embora os critérios para enquadramento das famílias nas várias faixas de renda sejam ajustados periodicamente (o que afeta a continuidade da série) pode-se dizer que os dados da ABEP oferecem uma visão consistente do que de fato está acontecendo no nosso mercado de consumo.
A distribuição da população por faixa de renda, relativa aos últimos 5 últimos anos (2006 a 2011), está apresentada abaixo

A tabela mostra claramente um extraordinário encolhimento da classe D, que se reduziu em mais de 30% em 5 anos. E o virtual desaparecimento da classe E (o que, evidentemente, conduzirá a uma nova revisão dos critérios da ABEP já que uma classe de renda tecnicamente não pode desaparecer)
Outro aspecto que chama a atenção é o encolhimento (em termos porcentuais) das classes A e B. Já a classe C que representava 33,7% da população brasileira em 2006 (um terço do país, em números redondos) e passou a representar 49,4% (metade do país) cinco anos depois (na soma dos dois segmentos). Cinco anos é um prazo extremamente curto para mudanças tão profundas na distribuição de renda do país e explica porque os negócios voltados para a classe C explodiram nos últimos anos
A próxima tabela mostra a renda média mensal das famílias por classe social (em R$ correntes, não ajustados para eliminar os efeitos da inflação)

Grosso modo, este quadro mostra uma evolução da renda em cerda de 30% para todas as faixas. A classe E,com 54,1% de crescimento da renda, poderia ser o destaque do quadro. Mas como ela representa apenas 0,8% da população, acaba sendo irrelevante. É importante notar que a classe C, que cresceu 50% nominalmente e teve sua renda expandida em 30%, aliada à demanda reprimida, amplo desejo de consumo e acesso farto à crédito, explica o agigantamento do comércio orientado à classe média baixa, bem como a preocupação da indústria em entender o pensamento e o comportamento deste consumidor
Em um post anterior deste blog eu mostrei tabelas do IBGE que comprovam o envelhecimento da população. As projeções oficiais do órgão mostram que, em poucos anos, teremos uma distribuição etária em formato de barril, com muita gente de meia idade e menos jovens no país
Tudo somado o que temos é uma enorme classe média baixa, com renda nominal ascendente e famílias com número cada vez menor de filhos
por Fabio Nogueira | dez 8, 2011 | Blog
A economia brasileira esfriou no terceiro trimestre e receberá um sopro de energia no quarto trimestre em função de fatores típicos da época (décimo terceiro, natal, etc) e também de alguns estímulos promovidos pelo governo, como redução do IPI para alguns produtos e injeção de dinheiro para crédito
Essas medidas irão ajudar no Natal de 2011 mas não são suficientes para reverter um grave problema estrutural que afeta a economia brasileira e que está nos conduzindo diretamente para a estagnação: o aumento fortíssimo dos gastos do governo, que só podem ser cobertos por aumento de arrecadação fiscal ou endividamento público. Nos últimos 8 anos o governo brasileiro inchou fortemente as despesas com pessoal, tanto aumentando substancialmente o número de funcionários quanto sua remuneração. Ao mesmo tempo, o salário mínimo também foi substancialmente elevado, com impactos na previdência. E os demais poderes não ficaram atrás, definindo um aumento substancial de regalias para si. Foi isso que fez com que o governo aumentasse a coleta de impostos em porcentual muito superior ao crescimento do PIB (que já havia sido elevado). Isso se chama, na linguagem popular dos economistas, de “bicicletar”. O apelido deriva do fato das contas públicas se desorganizarem completamente ao primeiro sinal de redução de crescimento dado que a coleta de impostos não permitirá mais fazer frente ao crescimento das despesas.

O Brasil deverá passar por uma fase de crescimento lento nos próximos anos, mesmo que contra a vontade da atual Presidente e mesmo com sua área de infra-estrutura estimulada pelos investimentos da Copa. Para o setor varejista, que se expandiu fortemente nos últimos anos, em alguns casos se endividando e em outros consumindo o caixa próprio, este é o momento da consolidação
A melhor estratégia para os próximos anos é refrear o impulso de continuar crescendo, investir na melhoria da rentabilidade de cada PDV atual, reduzir endividamento e melhorar a posição de caixa. A experiência mostra que aqueles que são prudentes na gestão do negócio, e que olham com cuidado e antecedência para os sinais de perigo, são os que melhor reunem condições para sobreviver e prosperar a longo prazo
por Fabio Nogueira | dez 5, 2011 | Blog
Eu sou consultor profissional há 31 anos e a D.D existe desde 1995. Antes disso eu trabalhava para uma multinacional de consultoria bastante conhecida. Durante este tempo todo muita coisa mudou no Brasil mas há algo que ainda persiste: as enormes diferenças regionais

Diferenças de cultura regional sempre existirão em um país com estas dimensões. Se a gente olhar para os EUA verá a mesma coisa. O texano não é o californiano que não é o mesmo sujeito da Nova Inglaterra e muito menos o da Florida. Conviver com estas diferenças é parte do desafio do varejo à medida em que a rede aumenta sua região de cobertura.
Entretanto, há determinados conceitos que precisam ser relativizados. Hoje em dia, todos os profissionais, palestrantes, institutos de pesquisas e professores universitários voltados ao varejo falam muito em duas coisas: conveniência e sustentabilidade. E eu fico me perguntando: esses dois temas são nacionais mesmo ou sensibilizam apenas aqueles que vivem nas grandes capitais, onde o problema do trânsito e da destruição do meio ambiente é mais agudo?
Não tenho nenhuma pesquisa em mãos que me dê a resposta. Meu feeling é que sustentabilidade é palavra da moda, que gera um nivel qualquer de preocupação social nas pessoas mas que ainda não se reflete em ações abrangentes no varejo e na sociedade, exceto em poucas grandes capitais. As iniciativas que eu vejo parecem refletir mais o oportunismo do marketing do que uma orientação efetiva das empresas para políticas sustentáveis.
Conveniência é outra expressão muito na moda. O que é conveniência? Para quem mora em São Paulo, conveniência é o estabelecimento estar localizado perto da casa do consumidor e ter estacionamento gratuito (é preciso lembrar que a primeira hora de estacionamento em São Paulo, em qualquer bairro, varia entre R$ 10 e R$ 20). Mas para quem mora em Uberlândia, ou Palmas ou Natal, será que as pessoas pedem o mesmo tipo de “conveniência”? Eu já ouvi da boca de um monte de gente que sair de casa para ir nas lojas é um passeio e não uma obrigação. Nesse caso, conveniência pode ser você oferecer uma área de alimentação, um berçário para crianças pequenas ou um ambiente pouco ruidoso, que não canse seus clientes.
Para redes que começam a se expandir geograficamente, mapear e conhecer o comportamento e desejos de seus clientes é sempre um enorme desafio que conduz invariavelmente à sugestão de se reformular a organização para que ela opere de forma mais descentralizada, dando maior poder ao gerente regional ou da loja e transformando o marketing em uma área de suporte e inteligência. Eu sei que é fácil falar e dificil de fazer, especialmente em empresas mais antigas, com cultura corporativa estabelecida e que confiam bastante no feeling dos principais executivos, que geralmente são os próprios donos. De todo modo, é uma questão a ser pensada e onde a D.D Consultoria tem muito a contribuir
por Fabio Nogueira | nov 30, 2011 | Blog
Palestra proferida pela Nielsen no primeiro Congresso de Varejo Regional ocorrido em São Paulo, no dia 10 de novembro, organizado pela D.D Consultoria de Negócios e pela Revista Ponto de Venda.
A exposição trata de 5 fatores que estão impactando fortemente o varejo: (1) mudanças demográficas profundas no Brasil, (2) crescimento econômico e de renda, principalmente na Classe C, (3) Comportamento do consumidor, que cada vez mais quer conveniência e praticidade, (4) o impacto da tecnologia nas vendas, em especial o telefone celular, internet, compras coletivas, sinalização digital e varejo multicanal e (5) sustentabilidade como uma preocupação crescente da sociedade.
A palestra pode ser lida online ou baixada gratuitamente através do link abaixo
https://skydrive.live.com/?lc=1046#cid=FF8AD0854F909B22&id=FF8AD0854F909B22%21180
por Fabio Nogueira | nov 30, 2011 | Blog
Meu parceiro Luiz Otávio Nascimento costuma dizer que o varejo convive permanentemente com o sonho de atingir a todo o seu mercado potencial e a realidade de servir apenas a seus clientes ativos. É claro que é impossível se atingir a todo o mercado potencial exceto se for um monopólio. Em condições normal de disputa de mercado, o público – alvo é o nosso objetivo real. Dentro dele, atendemos aos clientes mas, como não se consegue satisfazer a todos, apenas uma parte dos que um dia compraram conosco se tornam fiéis e podem ser considerados clientes ativos.
Todo varejista se esforça para aumentar o número de clientes ativos. O sucesso desse esforço depende de se trabalhar adequadamente 4 grandes vetores:
– o crediário, fundamental em praticamente qualquer varejo
– sortimento, que aumenta, se ajusta ou se renova periodicamente
– comunicação: é preciso aparecer para vender
– operações: a loja e os sistemas de retaguarda precisam funcionar com um relógio suiço. Tudo o que não funcionar direito operacionalmente conduz a perda de vendas ou, o que é pior, perda de clientes ativos
Ao longo dos anos, o varejo aprendeu a explorar bem o crediário (seja próprio, seja em parceria com alguma financeira) e outros mecanismos de fidelização.
A questão do sortimento torna-se muito complexa quando a rede começa a se expandir geograficamente e é necessário lidar com comportamentos cada vez mais heterogêneos dos consumidores. Nem sempre o que vende em um mercado dá certo em outro e isso é muito visível no setor de moda.
A comunicação é cara. Agências de publicidade tendem a recomendar mídias mais charmosas, como televisão, onde a bonificação delas é mais significativa. Entretanto, a menos que a rede varejista seja muito diversificada no sortimento e se espalhe por uma área geográfica muito grande, a mídia televisiva é mais cara e menos eficiente do que mídias dirigidas.
Por fim, operações é o hoje o foco de atenção de todos os varejistas, principalmente no que diz respeito à padronização de processos, sua automação e criação de indicadores de desempenho e logística. Tudo isso permite evoluir a gestão para que ela seja feita cada vez mais com base em indicadores e cada vez menos de forma empírica, permitindo o aumento do grau de profissionalização da empresa.
Créditos do gráfico: Luiz Otávio Nascimento